Sala do Diretor

Klint abriu a porta para Courtney, cavalheiresco como sempre. Ela ainda caminhava a passos tímidos, encolhida, meio envergonhada. Mas ele tinha certeza de que, por mais desconfortável que pudesse parecer, ela estaria melhor ali dentro. Como ele tinha certeza? Não dava para ser explicado facilmente. Mas Klint Waltz era um homem de intuição.

Assim que a porta se fechou, ele indicou um lugar no sofá ali próximo, e se sentou em uma poltrona.

- Senhorita Manson, acho importante te dizer que a Senhorita não está encrencada. Muito pelo contrário, eu te trouxe aqui porque gostaria de conversar um pouco com você.

Ele havia desabotoado o paletó e cruzado as pernas, apoiando os braços na poltrona de forma ao mesmo tempo austera e confortável. Suas mãos não demonstravam nada, nem mesmo a que tinha um anel com uma pedra preta quadrada em um dos dedos mínimos. A barba bem aparada envolvia o rosto outrora redondo, e os olhos cor de avelã eram sinceros e calmos.

- A Senhorita já sabe que a escola está passando por um momento de transição. E eu, como educador, sei que nem todos os meus alunos irão se adaptar às novas regras, pelo menos não de uma vez. Sei que a Senhorita e seu irmão têm laços muito estreitos, mas é bom que a senhora saiba que o que aconteceu hoje não vai ficar impune.

Ele finalmente desviou o olhar, pensativo, e então voltou a olhá-la.

- Mas eu também notei o aparente desconforto de seus amigos em deixarem que você volte para casa sozinha. Sem o Charles. Você saberia me informar por quê?

Ele queria muito que ela dissesse algo, para que ele pudesse tomar as devidas medidas, mas não achou que isso iria acontecer. Ainda assim, tinha que tentar. Mesmo se ela nada dissesse, ele ainda poderia fazer algo a respeito.

- Se for mais confortável para você, eu posso pedir à Senhorita Von Darkness que separe um tempo, e vocês poderão conversar mais à vontade no escritório dela.

A princípio, Courtney apernas observou por cima dos ombros enquanto a porta da sala se fechava atrás de si. Havia uma movimentação incomum dos "soldados de Lurien", como ela costumava chamá-los mentalmente. E ela tinha certeza que todos eles estavam indo na direção de Charles...

O que fariam com ele?
Seria igual ao que seu pai fazia com ele?
Ele ia aguentar?
Charles era um molotov esperando para ser aceso. Eles iriam acendê-lo?
E se ele explodisse ainda mais forte
O que sobraria?

Courtney só retornou a si na última fala de Klint. Até então ela não havia se sentado, incapacitada ao simplesmente se perder em seus pensamentos.
Ela olhou o diretor. Mas parecia que ela nunca olhava ninguém diretamente nos olhos. Então ela olhou o mais perto disso.

- N-Não, eu não quero conversar com ela...- ela se aproximou.

Então, seu corpo franzino se deixou cair sobre a mesa de Klint. A mesa do escritório.
Ela se sentou ali em cima, derrubando alguns papéis e canetas, encolhendo-se um tanto.

- O senhor pode só... me colocar de detenção também, por favor...? Junto com meu irmão. Por favor? Derrubei suas coisas, não derrubei?